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divagares

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30
Jun14

Nicolás Guillén

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Quando eu era rapaz

(digamos, há cinquenta anos)

havia gente grande e ingénua

que se assustava com uma zaragata de rua

ou com uma bravata de bêbados

num bar. E diziam:

"Deus meu, que dirão os americanos!)

Para alguns,

ser ianqui, naquela época,

era como ser quase sagrado:

a Emenda  Platt, a intervenção

armada, os couraçados.

Então não se podia imaginar

o que hoje é o pão quotidiano:

o rapto de um coronel

gringo ao jeito venezuelano,

ou de quatro agentes provocadores,

como na Bolívia fizeram os nossos irmãos;

nem os definitivos barbudos da Serra, claro.

Há cinquenta anos

na primeira página dos jornais, nada menos,

vinham as últimas notícias do beisebol

vindas de Nova Iorque.

Caramba! O Cincinati ganhou ao Pittsburg,

E o St. Louis ao Ditroit!

(Compre a bola marca "Reich", que é a melhor).

 

(Parte do poema Há muito tempo, na tradução de Manuel Seabra)

24
Jun14

Al-Rábita. ou Arrábida (A Serra e o Homem)

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"Se não estou no céu, estou nos seus arrabaldes!" Esta frase é atribuída a Frei Agostinho da Cruz a propósito da Serra da Arrábida. É uma caracterização certeira esta do Frei. A Arrábida não foi considerada pela UNESCO para ser classificada Património da Humanidade. Todavia, com ou sem tal classificação, é um monumento natural de rara beleza. Neste filme mais uma vez se demonstra isso mesmo.


23
Jun14

Bertolt Brecht (Elogio da dialéctica)

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A injustiça avança hoje a passo firme.

Os tiranos fazem planos para  dez mil anos.

O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.

Nenhuma voz além da dos que mandam.

E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:

Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.

 

Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.

O que é seguro não é seguro.

As coisas não continuarão a ser como são.

Depois de falarem os dominantes

Falarão os dominados.

Quem pois ousa dizer: nunca?

De quem depende que a opressão prossiga? De nós.

De quem depende que ela acabe? Também de nós.

O que é esmagado, que se levante!

O que está perdido, lute!

O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?

Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.

E nunca será: ainda hoje.

22
Jun14

Dubinuchka (canção popular russa)

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- Havia uma canção de que ela gostava especialmente. Por sinal bem bonita, uma espécie de hino triste e comovente, chamado "Dubinuchka", uma canção simples cantada com uma balalaica em fundo. A letra da "Dubinuchka" estava impressa em inglês por dentro da capa do álbum e ela aprendeu-a de cor e depois andou a cantá-la por toda a casa durante meses.

(...) 

Mas do que ela mais gostava era de cantar o refrão, porque dizia "força - oh".

Vá, pegar no batente,

Força - ooh!

Todos à uma,

Força - ooh!

Quando a Lorraine estava sozinha no quarto alinhava as bonecas todas, punha o disco da "Dubinuchka" a tocar e começava a cantar tragicamente "Força - ooh!  Força -. ooh!" ao mesmo tempo que empurrava as bonecas pelo chão fora em todas as direcções.

-Espere Murray, é só um minuto - disse eu, levantando-me e entrando em casa, no meu quarto, onde tinha o leitor de CD's e o velho fonógrafo. A maior parte dos meus discos estava guardada num armário dentro de caixotes, mas eu sabia em qual deles ia encontrar o que procurava. Peguei no álbum que o Ira me tinha oferecido em 1948 e tirei o disco que tinha a "Dubinuchka" cantada pela Banda e Coros do Exército Soviético. Mudei o regulador de velocidade para 78 r.p.m., limpei o disco e coloquei-o no prato do gira-discos. Pousei a agulha na ranhura, precisamente antes da última faixa, subi o volume para que o Murray pudesse ouvir a música através das portas abertas que separavam o meu quarto da varanda e voltei para junto dele.

Ficámos a ouvir, no escuro, não eu a ele ou ele a mim, mas ambos a "Dubinuchcka". Era exactamente como o Murray a tinha descrito: lindíssima, uma canção tradicional, triste e comovente, uma espécie de hino. Salvo pelo arranhar da superfície já gasta do velho disco - um som cíclico não muito diferente de alguns ruídos campestres nocturnos que todos conhecemos - a canção parecia chegar até nós vinda de um remoto passado histórico. Nada parecido com o estar deitado na varanda a ouvir os concertos ao vivo de Tanglewood transmitidos ao sábado à noite. "Força - ooh! Força - ooh!"


Philip Roth
21
Jun14

Fernando Tavares Marques ( às crianças do meus país)

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Criança,

Tu que pedes (porque a razão é forte e a voz é fraca)

Um brinquedo, um parque ou uma escola,

Um espaço livre p'ra jogares à bola,

Uma casa em vez de uma barraca...

 

Pergunta, tu, criança,

Com que direito, que razão, porquê?

Te obrigam a sofrer desde tão cedo,

(Causa de uma revolta a esconder medo)

Como algo que se sente e se não vê!

 

Criança,

Diz ao mundo: - Estou aqui!

Eu posso ser o futuro mas sou, também presente!

-E com esse direito, essa razão,

Exige liberdade exige pão,

Exige paz, o fim da exploração,

Não para ti só, mas sim p'ra toda a gente!

 

Diz aos homens, por ti, por todos, que no fundo...

-SEM AS CRIANÇAS NÃO VALE A PENA O MUNDO!

19
Jun14

Daniel Filipe (Canto e lamentação na cidade ocupada/9)

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Mas há a noite. O estar sozinho

e no entanto acompanhado - servo de um deus estranho

cumprindo o ritual jamais completo.

 

Mas há o sono. A lúcida surpresa

de um mundo imaterial e necessário,

com praias onde o corpo se desprende.

 

Mas há o medo. Há sobretudo o medo.

fel, rancor, desconhecido apelo,

suor nocturno, rápido suicídio.

Pág. 1/3

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