Não há meio de chover!
O Alentejo está sujeito a uma impiedosa seca mas, não apenas o Alentejo.
Os ciclos repetem-se e com eles as tragédias ambientais e humanas.
A água escasseia, onde estás que não te vejo?
Bernardim Ribeiro (1482-1552), o poeta da vila do Torrão, que era Terrão (há quem ponha em dúvida essa naturalidade mas, em inúmeros documentos é referida), aludiu às causas duma seca ocorrida no seu tempo, na sua "Écloga de Jano e Franco":
Dizem que havia um pastor
antre Tejo e Odiana,
que era perdido de amor
per uma moça Joana.
Joana patas guardava
pela ribeira do Tejo,
seu pai acerca morava,
e o pastor, de Alentejo
era, e Jano se chamava.
Quando as fomes grandes foram,
que Alentejo foi perdido,
da aldea que chamam Terrão
foi este pastor fugido.
Levava um pouco de gado,
que lhe ficou doutro muito
que lhe morreu de cansado:
que Alentejo era enxuito
d'ágoa e mui seco de prado.
Toda a terra foi perdida;
no campo do Tejo só
achava o gado guarida;
ver Alentejo era um dó!
E Jano, para salvar
o gado que lhe ficou.
foi esta terra buscar;
e se um cuidado levou
outro foi ele lá achar.
(...)