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28
Dez08

MASSA COM BRÓCULOS

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A semana passada (domingo) convidei-me para ir almoçar com a Guida (minha filha) e o Fred, com a condição de ser ele a cozinhar um prato vegetariano. A proposta foi aceite. Então o Fred serviu massa c/bróculos e como sobremesa pedaços de abacaxi.


                

Foi saboroso demais...

 

Pedi a receita, e hoje resolvi cozinhá-la só para mim, porque a Isabel teve de ir trabalhar.

 

Confeccionei a receita tal como me foi ensinada, com um pequeno acrescento da minha responsabilidade. A sobremesa foi apenas nozes. Finalizei com um chá de menta - o João Luis (meu filho) tem no terraço dele uma considerável moita de menta.

 

Vou partilhar a receita com quem a quiser experimentar:

 

1 - Faz-se um "refogado" c/azeite qb, cebola, alho e louro.

 

2 - Junta-se bróculos cozidos, picados, envolver e esmagar grosseiramente (preferindo re

      duz a creme)

 

3 - Juntar a massa, tipo concha, que foi cozida à parte, natas vegetais e sementes de  li-

      nhaça trituradas, continuar a mexer - o ideal é conseguir preencher mais ou menos o in-

      terior das conchas com os outros ingredientes.

 

3 - Finalmente adicionar molho de soja.

 

4 - Está pronto. Serve-se com requeijão por cima. Um pormenor: usei panela de ferro (vok)

      e aqueci o prato antes de servir

 

5 - O Fred não usou as sementes, isto foi ideia minha. Tb me disse que o amigo dele que    

      lhe ensinou a receita, adiciona pedaços de laranja antes de servir.

 

 

 

 

 

 

 

27
Dez08

EM MEMÓRIA DO MEU PAI

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O meu saudoso pai, alentejano, bem do interior, habituado ás agruras de uma vida inteira - iniciada na infância - dominava um vasto repertório da  poesia popular. Combinava com a sua condição de assalariado rural, uma sensibilidade refinada para as coisas da beleza. Do belo. Desde a minha mais tenra idade, retenho na memória uma quadra de autor desconhecido, que era recorrente na veia declamatória do meu pai. Sobretudo quando,  "já bem bebido" e em momentos de aparente solidão, contemplava o céu na escuridão nocturna. Eis a quadra:

 

                                                     Eu sonhei - ou foi loucura?

                                                     Que ouvi o vento falar

                                                     Dizendo prá noite escura

                                                     Que lindo é o luar!

26
Dez08

TEMPO DA POESIA II

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O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, Vinícius de Morais

 

Era ele que erguia as casas

Onde antes só havia chão.

Como um passáro sem asas

Ele subia com as casas

Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia

Da sua grande missão:

Não sabia, por exemplo

Que a casa de um homem é um templo

Um templo sem religião

Como tampouco sabia

Que a casa que ele fazia

Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.

De facto, como podia

Um operário em construção

Compreender por que um tijolo

Valia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhava

Com pá cimento e esquadria

Quanto ao pão, ele o comia...

Mas fosse comer tijolo!

E assim o operário ia

Com suor e com cimento

Erguendo uma casa aqui

Adiante um apartamento

Além uma igreja, à frente uma prisão:

Prisão de que sofreria

Não fosse, eventualmente

Um operário em construção.

 

Mas ele desconhecia

Esse facto extraordinário:

Que o operário faz a coisa

E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia

À mesa, ao cortar o pão

O operário foi tomado

De uma súbita emoção

Ao constatar assombrado

Que tudo naquela mesa

-Garrafa, prato, facão-

Era ele quem os fazia

Ele um humilde operário

Um operário em construção.

Olhou em torno: gamela

Banco, enxerga, caldeirão

Vidro, parede, janela

Casa, cidade, nação!

Tudo, tudo o que existia

Era ele quem o fazia

Ele, um humilde operário

Um operário que sabia

Exercer a profissão.

 

Ah, homens de pensamento

Não sabereis nunca o quanto

Aquele humilde operário

Soube naquele momento!

Naquela casa vazia

Que ele mesmo levantara

Um mundo novo nascia

De que sequer suspeitava.

O operário emocionado

Olhou sua própria mão

Sua rude mão de operário

De operário em construção

E olhando bem para ela

Teve um segundo a impressão

De que não havia no mundo

Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão

desse instante solitário

Que, tal sua construção,

Cresceu também o operário.

Cresceu em alto e profundo

Em largo e no coração

E como tudo o que cresce

Ele não cresceu em vão

Pois além do que sabia

-Exercer a profissão-

O operário adquiriu

Uma nova dimensão;

A dimensão da poesia.

E um facto novo se viu

Que a todos admirava:

O que o  operário dizia

Outro operário escutava.

E foi assim que o operário

Do edifício em construção

Que sempre dizia sim

Começou a dizer não

E aprendeu a notar coisas

A que não dava atenção:

 

Notou que a sua marmita

Era o prato do patrão

Que a sua cerveja preta

Era o uysqui do patrão

Que o seu macacão de zuarte

Era o terno do patrão

Que o casebre onde morava

Era a mansão do patrão

Que os seus dois pés andarilhos

Eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia

Era a noite do patrão

Que a sua imensa fadiga

Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!

E o operário fez-se forte

Na sua resolução.

Como era de se esperar

As bocas da delação

Começaram a dizer coisas

Aos ouvidos do patrão.

Mas o patrão não queria

Nenhuma preocupação.

"...Convençam-.no" do contrário

Disse ele sobre o operário

E ao dizer isso sorria.

 

Dia seguinte o operário

Ao sair da construção

Viu-se súbito cercado

Dos homens da delação

E sofreu por destinado

Sua primeira agressão.

Teve seu rosto cuspido

Teve seu bbraço quebrado

Mas quando foi perguntado

O operário disse: Não!

 

Em vão sofrera o operário

Sua primeira agressão

Muitas outras se seguiram

Muitas outras seguirão

Porém, por imprescindível

Ao edifício em construção

Seu trabalho prosseguia

E todo o seu sofrimento

Misturava-se ao cimento

Da construção que crescia.

 

Sentindo que a violência

Não dobraria o operário

Um dia tentou o patrão

Dobrá-lo de modo vário.

De sorte que o foi levando

Ao alto da construção

E num momento de tempo

Mostrou-lhe toda a região

E apontando-a ao operário

Fez-lhe esta declaração:

-Dar-te-ei todo esse poder

E a sua satisfação

Porque a mim me foi entregue

E dou-o a quem bem quiser.

Dou-te tempo de lazer

Dou-te tempo de mulher.

Portannto, tudo o que vês

Será teu se me adorares

E, ainda mais, se abandonares

O que te faz dizer não.

 

Disse, e fitou o operário

Que olhava e que reflectia

Mas o que via o operário

O patrão nunca veria.

O operário vias as casas

E dentro das estruturas

Via ciosas, objectos

Produtos, manufacturas

Via tudo o que fazia

O lucro do seu patrão

E em cada coisa que via

Misteriosamente havia

A marca da sua mão.

E o operário disse: Não!

 

-Loucura!- gritou o patrão

Não vês o que te dou eu?

Mentira! - disse o operário

Não podes dar-me o que é meu.

 

E um grande silêncio fez-se

Dentro do seu coração

Um silêncio de martírios

Um silêncio de prisão.

Um silêncio povoado

De pedidos de perdão

Um silêncio apavorado

Como o Medo em solidão.

Um silêncio de torturas

E gritos de maldição

Um silêncio de fracturas

A se arrastarem no chão.

E o operário ouviu a voz

De todos os seus irmãos

Os seus irmãos que morreram

Por outros que viverão.

Uma esperança sincera

Cresceu no seu coração

E dentro da tarde mansa

Agitou-se a razão

De um homem pobre e esquecido

Razão porém que fizera

Em operário construido

O operário em construção.

 

 

23
Dez08

NATAL 2008

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"Boas festas o tanas". Escreveu há dias um jornalista na sua crónica no JN. E partindo desta frase demonstra no desenvolvimento do texto que a generalidade dos portugueses não vão ter umas boas festas.

 

De facto está mesmo a ver-se que assim é.  Os senhores governantes e os seus apoiantes, descartam-se argumentando que o mal "vem de fora". O último a escrever isto mesmo, terá sido o Dr Mário Soares, hoje no DN. O Dr. M.S., desde há uns tempos fala muito nos mais desprotegidos, nos mais desfavorecidos, nas pequenas e médias empresas. Pois. Não tem nada a perder. Com a idade, esqueceu as culpas que tem. Já não se consegue lembrar que tudo começou no dia em que resolveu meter o socialismo na gaveta. E mais, não só se esqueceu como estará convencido que todos também se esqueceram.

 

Entretanto fica claro o pensamento do Dr M.S., quando nos seus escritos, entrevistas, etc, conclui sempre que o governo do Sr Socrates tem feito um bom trabalho.

 

Voltando à quadra natalícia, Dezembro é tempo propício para todos os descaramentos, todas as hipocrísias. Ele é almoços, ele é jantares, ele é ceias para os pobrezinhos, mais um casaco ou uma camisola como complemento. Muito gostam as televisões destes eventos cheios de colorido (já não nos bastava Cavaco Silva com a boca cheia de bolo rei).

 

Só que para além de Dezembro, os anos têm mais 11 meses. Mais 334 dias. E durante esse tempo ninguem vai hibernar.

 

Ou seja, por mais compungidos que os poderosos se mostrem em Dezembro, as falências continuam, o desemprego vai continuar a crescer, os preços vão continuar a subir, mesmo com o petróleo a descer... e sabem quem se vai continuar a lixar? Os mesmos de sempre.

 

Isto é o tanas!

 

 

 

 

20
Dez08

TEMPO DA POESIA

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HOMEM, ABRE OS OLHOS E VERÁS, Armindo Rodrigues

 

Homem,

abre os olhos e verás

em cada outro homem um irmão.

 

Homem,

as paixões que te consomem

não são boas nem más.

São a tua condição.

 

A paz,

porém, só a terás

quando o pão que os outros comem,

homem,

for igual ao teu pão.

 

 

PORT-WINE, Joaquim Namorado

 

O Douro é um rio de vinho

que tem a foz em Liverpool e em Londres

e em Nova -York e no Rio e em Buenos Aires:

quando chega ao mar vai nos navios,

cria seus lodos em garrafeiras velhas,

desemboca nos clubes e nos bars.

 

O Douro é um rio de barcos

onde remam os barqueiros suas desgraças

primeiro se afundam em terra suas vidas

que no rio se afundam as barcaças.

 

Nas sobremesas finas, as garrafas

assemelham cristais cheios de rubis,

em Cape-Town, em Sidney, em Paris,

tem um sabor generoso e fino

o sangue que dos cais exportamos em barris.

 

As margens do Douro são penedos

fecundados de sangue e amarguras

onde cava o meu povo as vinhas

como quem abre as próprias sepulturas:

nos entrepostos dos cais, em armazéns,

comerciantes trocam por esterlino

o vinho que é o sangue dos seus corpos,

moeda pobre que são os seus destinos.

 

Em Londres os lords e em Paris os snobs,

No Cabo e no Rio os fazendeiros ricos

acham no Porto um sabor divino,

mas a nós só nos sabe, só nos sabe,

à tristeza infinita de um destino.

 

O rio Douro é um rio de sangue,

por onde o sangue do meu povo corre.

Meu povo, liberta-te, liberta-te!,

Liberta-te, meu povo! - ou morre.

18
Dez08

...

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Ó Nelson, tu és um querido, mas poupa-nos com essa do Além... Não tivesses porte atlético, vontade e preparação, e verias o resultado. Não havia divino que te valesse.


.

07
Dez08

POESIA DE BERTOLT BRECHT

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PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO QUE LÊ

 

Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis,

Mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilónia, tantas vezes destruida,

Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas da Lima Dourada moravam os seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde foram os seus pedreiros?

A grande Roma

Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares?

A tão cantada Bizâncio

Só tinha palácios

Para os seus habitantes? Até a legendária Atllântida

Na noite em que o mar a engoliu

Viu afogados gritar por seus escravos.

 

O jovem Alexandre conquistos as Índias

Sozinho?

César venceu os gauleses.

Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha

Chorou. E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos

Quem mais a ganhou?

 

Em cada página uma vitória

Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem

Quem pagava as despesas?

 

Tantas histórias

Quantas perguntas

 

 

A EXCEPÇÂO E A REGRA

 

Estranhem o que não for estranho.

Tomem por inexplicável o habitual.

Sintam-se perplexos ante o quotidiano.

Tratem de achar um remédio para o abuso

Mas não se esqueçam que o abuso é sempre a regra..

 

03
Dez08

CINQUENTENÀRIO DE "QUANDO OS LOBOS UIVAM"

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QUANDO OS LOBOS UIVAM , de Aquilino Ribeiro, Obra maior da literatura portuguesa, transposta para o pequeno ecrã numa belíssima série, faz em 2008 50 anos da sua 1º. edição. As Edições Avante publicaram uma edição comemorativa deste 50º. aniversário, com ilustrações do mestre João Abel Manta e um prefácio de Álvaro Cunhal. Edição a não perder. O texto deste prefácio, escrito em 1963, integra o II Volume das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal, recentemente publicado pelas edições Avante. Outra obra a não perder. "O romance teve um sucesso fulminante. Quando a polícia correu a apreendê-lo, dos 9000 exemplares da primeira tiragem restavam apenas 32 nas livrarias. Os fascistas não se contentaram porém com impedir nova edição. Aquilino foi processado e enviado ao mesmo "odioso" Tribunal Plenário, que corajosamente desmascarara no seu romance." Extracto do prefácio de Álvaro Cunhal à edição comemorativa do 50º. aniversário da 1ª. edição.

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