VIVA O 50º. ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO CUBANA!
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
A semana passada (domingo) convidei-me para ir almoçar com a Guida (minha filha) e o Fred, com a condição de ser ele a cozinhar um prato vegetariano. A proposta foi aceite. Então o Fred serviu massa c/bróculos e como sobremesa pedaços de abacaxi.
Foi saboroso demais...
Pedi a receita, e hoje resolvi cozinhá-la só para mim, porque a Isabel teve de ir trabalhar.
Confeccionei a receita tal como me foi ensinada, com um pequeno acrescento da minha responsabilidade. A sobremesa foi apenas nozes. Finalizei com um chá de menta - o João Luis (meu filho) tem no terraço dele uma considerável moita de menta.
Vou partilhar a receita com quem a quiser experimentar:
1 - Faz-se um "refogado" c/azeite qb, cebola, alho e louro.
2 - Junta-se bróculos cozidos, picados, envolver e esmagar grosseiramente (preferindo re
duz a creme)
3 - Juntar a massa, tipo concha, que foi cozida à parte, natas vegetais e sementes de li-
nhaça trituradas, continuar a mexer - o ideal é conseguir preencher mais ou menos o in-
terior das conchas com os outros ingredientes.
3 - Finalmente adicionar molho de soja.
4 - Está pronto. Serve-se com requeijão por cima. Um pormenor: usei panela de ferro (vok)
e aqueci o prato antes de servir
5 - O Fred não usou as sementes, isto foi ideia minha. Tb me disse que o amigo dele que
lhe ensinou a receita, adiciona pedaços de laranja antes de servir.
O meu saudoso pai, alentejano, bem do interior, habituado ás agruras de uma vida inteira - iniciada na infância - dominava um vasto repertório da poesia popular. Combinava com a sua condição de assalariado rural, uma sensibilidade refinada para as coisas da beleza. Do belo. Desde a minha mais tenra idade, retenho na memória uma quadra de autor desconhecido, que era recorrente na veia declamatória do meu pai. Sobretudo quando, "já bem bebido" e em momentos de aparente solidão, contemplava o céu na escuridão nocturna. Eis a quadra:
Eu sonhei - ou foi loucura?
Que ouvi o vento falar
Dizendo prá noite escura
Que lindo é o luar!
O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, Vinícius de Morais
Era ele que erguia as casas
Onde antes só havia chão.
Como um passáro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
Da sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De facto, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse facto extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
-Garrafa, prato, facão-
Era ele quem os fazia
Ele um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
desse instante solitário
Que, tal sua construção,
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo o que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
-Exercer a profissão-
O operário adquiriu
Uma nova dimensão;
A dimensão da poesia.
E um facto novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que a sua marmita
Era o prato do patrão
Que a sua cerveja preta
Era o uysqui do patrão
Que o seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que os seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que a sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
"...Convençam-.no" do contrário
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu bbraço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
-Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portannto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que reflectia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário vias as casas
E dentro das estruturas
Via ciosas, objectos
Produtos, manufacturas
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca da sua mão.
E o operário disse: Não!
-Loucura!- gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Como o Medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fracturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agitou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construido
"Boas festas o tanas". Escreveu há dias um jornalista na sua crónica no JN. E partindo desta frase demonstra no desenvolvimento do texto que a generalidade dos portugueses não vão ter umas boas festas.
De facto está mesmo a ver-se que assim é. Os senhores governantes e os seus apoiantes, descartam-se argumentando que o mal "vem de fora". O último a escrever isto mesmo, terá sido o Dr Mário Soares, hoje no DN. O Dr. M.S., desde há uns tempos fala muito nos mais desprotegidos, nos mais desfavorecidos, nas pequenas e médias empresas. Pois. Não tem nada a perder. Com a idade, esqueceu as culpas que tem. Já não se consegue lembrar que tudo começou no dia em que resolveu meter o socialismo na gaveta. E mais, não só se esqueceu como estará convencido que todos também se esqueceram.
Entretanto fica claro o pensamento do Dr M.S., quando nos seus escritos, entrevistas, etc, conclui sempre que o governo do Sr Socrates tem feito um bom trabalho.
Voltando à quadra natalícia, Dezembro é tempo propício para todos os descaramentos, todas as hipocrísias. Ele é almoços, ele é jantares, ele é ceias para os pobrezinhos, mais um casaco ou uma camisola como complemento. Muito gostam as televisões destes eventos cheios de colorido (já não nos bastava Cavaco Silva com a boca cheia de bolo rei).
Só que para além de Dezembro, os anos têm mais 11 meses. Mais 334 dias. E durante esse tempo ninguem vai hibernar.
Ou seja, por mais compungidos que os poderosos se mostrem em Dezembro, as falências continuam, o desemprego vai continuar a crescer, os preços vão continuar a subir, mesmo com o petróleo a descer... e sabem quem se vai continuar a lixar? Os mesmos de sempre.
Isto é o tanas!
HOMEM, ABRE OS OLHOS E VERÁS, Armindo Rodrigues
Homem,
abre os olhos e verás
em cada outro homem um irmão.
Homem,
as paixões que te consomem
não são boas nem más.
São a tua condição.
A paz,
porém, só a terás
quando o pão que os outros comem,
homem,
for igual ao teu pão.
PORT-WINE, Joaquim Namorado
O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova -York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.
O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças
primeiro se afundam em terra suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs,
No Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! - ou morre.
Ó Nelson, tu és um querido, mas poupa-nos com essa do Além... Não tivesses porte atlético, vontade e preparação, e verias o resultado. Não havia divino que te valesse.
PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO QUE LÊ
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas da Lima Dourada moravam os seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde foram os seus pedreiros?
A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares?
A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atllântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistos as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
A EXCEPÇÂO E A REGRA
Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o quotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam que o abuso é sempre a regra..
QUANDO OS LOBOS UIVAM , de Aquilino Ribeiro, Obra maior da literatura portuguesa, transposta para o pequeno ecrã numa belíssima série, faz em 2008 50 anos da sua 1º. edição. As Edições Avante publicaram uma edição comemorativa deste 50º. aniversário, com ilustrações do mestre João Abel Manta e um prefácio de Álvaro Cunhal. Edição a não perder. O texto deste prefácio, escrito em 1963, integra o II Volume das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal, recentemente publicado pelas edições Avante. Outra obra a não perder. "O romance teve um sucesso fulminante. Quando a polícia correu a apreendê-lo, dos 9000 exemplares da primeira tiragem restavam apenas 32 nas livrarias. Os fascistas não se contentaram porém com impedir nova edição. Aquilino foi processado e enviado ao mesmo "odioso" Tribunal Plenário, que corajosamente desmascarara no seu romance." Extracto do prefácio de Álvaro Cunhal à edição comemorativa do 50º. aniversário da 1ª. edição.
14 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.