AS FOTOS DE ÀLVARO DIAS
Álvaro dos Santos Dias, setubalense ilustre, prestigiado empresário das artes gráficas, tem uma história de vida em que ressalta a dignidade.
Também ele "comeu o pão que o diabo amassou". Isto mesmo se constata, quer nos dados biográficos, quer no texto de sua autoria, insertos no livro "Em Terras de Rio Feito Mar", no qual temos o privilégio de admirar alguns dos seus registos fotográficos, captados nos anos 40 do século passado, imbuídos de um profundo sentido humanista.
Àcerca das fotos reunidas no citado livro, transcrevo as palavras de Regina Marques, presidente da UPS:
"A fotografia de Álvaro Dias é um documento comovente de antropologia humana dos anos 40 de Setúbal. É um documento histórico cuja rememoração tem o sentido de revitalizar o passado para pensarmos o presente e projectarmos o futuro. Uma singularidade neste painel de fotografias nos toca, talvez aquela, pela qual somos género humano. Álvaro Dias traz-nos o tempo em que a força do trabalho estava no corpo, em que o corpo era a tecnologia sem qualquer mediação. Naquele tempo, o corpo-máquina dos homens puxava, puxava e puxava as redes. O corpo das mulheres carregava a ranchêta e carregava os meninos, e os meninos carregavam a água e os baldes com os restos de comida dos marinheiros. Eram práticas sociais duras, difíceis, vividas nesses corpos de trabalho que Álvaro nos conta. Parece que alguns meninos teimavam em ter tempo para brincar, e alguns sonharam e cantaram, como ele próprio.
Por muito que nos nossos dias, nos invadam com imagens de corpos assépticos, sedutores, na ânsia de nos afastarem dos corpos que trabalham, a criatividade e engenho de uns tantos, não deixam esquecer que as práticas sociais nunca se desligam dos corpos de trabalho que as engendram.
Haja gente que siga a fotografar para não cair no esquecimento que é o trabalho que modela a vida."