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26
Abr09

25 DE ABRIL - REVOLUÇÃO OU EVOLUÇÃO?

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Nestes últimos dias, ao ler alguns jornais deparei com notícias sobre afirmações de Mário Soares, a propósito do 25 de Abril. No dia 23 teve lugar no ISCSP um debate sob o tema "25 de Abril - Revolução ou Evolução?", a que tive o privilégio de assistir.

Auditório a abarrotar de alunos e professores.  O debate moderado pelo Reitor da Universidade de Lisboa, teve como intervenientes Odete Santos, Adriano Moreira e Mário Soares.

Odete Santos - primeira oradora - fez uma intervenção brilhante, partindo da consideração do carácter revolucionário do 25 de Abril. Elencou os traços fundamentais, desde os objectivos que estiveram na base do movimento dos capitães até às conquistas alcançadas com o processo revolucionário iniciado em 25 de Abril.  Identificou os golpes desferidos pela contra-revolução e a situação actual em que pairam no ar sinais inquietantes e ameaçadores das liberdades e dos direitos dos portugueses. A utilização da poesia foi uma constante na sua participação. O próprio Reitor lhe pediu que recitasse um determinado poema.

Seguiu-se no uso da palavra Adriano Moreira. A sua intervenção, de cunho marcadamente académico, centrou-se na questão da estratégia - que analisou desde a 1ª dinastia até aos nossos dias, e segundo ele, assentou sempre numa cadeia de comando, excepto na 3ª dinastia onde houve uma cadeia de submissão - para concluir da inexistência de estratégia no regime instaurado com o 25 de Abril.

Eis que chega a vez de Mário Soares falar. Começou por manifestar a sua confusão com o decorrer da sessão porque, disse, supunha que iria decorrer na base de perguntas e respostas.

Bom, o que eu percebi logo, é que esta afirmação era a justificação para a sua impreparação para o debate. Vai daí, lança umas "assobiadelas" para o ar e está a intervenção feita. E o que foram essas assobiadelas?

-que a revolução dos cravos foi um caso único, sem influência estrangeira;

-que o 25 de Novembro, etc e tal, a cassete do costume...

Tendo conhecimento presencial do que se havia passado no ISCSP, não podia deixar de ficar perplexo com o teor dos relatos publicados nos jornais. Isto mostra à evidência o alinhamento dos OCS e de como um "arroto" é transformado num acontecimento. Ou seja, para os senhores jornalistas, o que aconteceu no ISCSP foram as palavras - apesar de parcas - de Mário Soares. É assim como diz o ditado "vale mais cair em graça que ser engraçado"!

25
Abr09

TEMPO DA POESIA IV

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CALÇADA DE CARRICHE; DE ANTÓNIO GEDEÃO

 

Luisa sobe,

sobe a calçada

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe Luisa,

sobe que sobe

sobe a calçada.

Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

Anda, Luisa,

Luisa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

 

Luisa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

Anda, Luisa.

Luisa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

 

Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.

Anda, Luisa,

Luisa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

 

Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o hommem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

Anda, Luisa.

Luisa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga.

Regrassa a casa

é já noite fechada.

Luisa arqueja

pela calçada.

Anda, Luisa,

Luisa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Anda, Luisa,

Luisa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

 

 

Odete Santos, uma apaixonada pela poesia, declama frequentemente  (quem não se lembra de a ouvir, a meio de um discurso, introduzir um poema, a propósito do assunto que aborda...) sendo recorrente a Calçada de Carriche. Esta foto foi tirada no ISCPS, numa sessão sobre o 25 de Abril, em que a pedido do sr reitor, a Calçada de Carriche foi dita por Odete Santos.

 

19
Abr09

TEMPO DA POESIA III

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Ao desconcerto do mundo , Luis de Camões

 

Os bons vi sempre passar

no Mundo graves tormentos;

e para mais me espantar,

os maus vi sempre nadar

em mar de contentamentos.

Cuidando alcançar assim

o bem tão mal ordenado,

fui mau, mas fui castigado

Assim que, só para mim

anda o mundo desconcertado.


 

 

 

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