30
Set09
Ainda uma reflexão sobre as legislativas de domingo passado
divagares
Nestes três dias, tenho ouvido os comentários mais variados sobre aqueles resultados. Uma tónica interessante, é a manifestação de um certo alívio por o Ps ter deixado de dispor da maioria absoluta. Percebe-se perfeitamente o seu significado.
Mas, voltando aos comentários, dois deles mereceram particularmente a minha atenção:
"cada país tem aquilo que merece"
"o Povo escolheu, o Povo é que sabe"
Um senhor, depois de passar os olhos pelos jornais, expostos na banca, comentou em voz alta: "cada país tem aquilo que merece". Olhei e reparei que tinha um ar sério e sereno. As várias pessoas presentes nada disseram relativamente a este comentário. Pela minha parte, ainda fui tentado a discordar mas acabei por não o fazer.
Quanto à outra linha de pensamento - "o Povo escolheu, o Povo é que sabe" - não resisti a contrapor que "essa visão configura conformismo e muito mais que conformismo", o que acalorou uma discussão de café, envolvendo outras cinco pessoas, das quais, inicialmente, só um concordou comigo. Esta discussão arrastou-se, já que não abdiquei de argummentar mais ou menos assim:
-Teve razão (sabia o que estava a fazer) o Povo alemão, quando deu a maioria ao Partido Nazi de Hitler?
-Soube o Povo italiano escolher ao votar maioritáriamente em Berlusconi?
-Faz sentido a atidude daquelas pessoas "simples" que se concentraram domingo à noite,no Largo do Rato, gritando vitória enquanto esperavam pelo sr Sócrates (que afinal não apareceu...)?
O Povo também se engana! As massas populares também se enganam! A história está cheia de exemplos. A história e o presente...
Os condicionamentos, as manipulações, as pressões, as dependências, a demagogia, produzem seres acríticos, seres não pensantes, seres permeáveis a ideias que nada tem a ver com os seus interesses de classe. A classe dominante tem meios e poderes enormes. Dispõe de institutos e centrais encarregados do tratamento e difusão/aplicação das suas teses.
Apetece-me lembrar aqui José Gomes Ferreira: Acordai!/Acordai, homens que dormis/A embalar a dor/Dos silêncios vis!/Vinde, no clamor/Das almas viris,/Arrancar a flor/Que dorme na raiz!/Acordai!/Acordai, raios e tufões/Que dormis no ar/E nas multidões!/Vinde incêndiar/De astros e canções/As pedras e o mar,/O mundo e os corações.../Acordai!/Acendei, de almas e de sois,/Este mar sem cais/Nem luz de farois!E acordai, depois/Das lutas finais,/Os nossos herois/Que dormem nos covais./ACORDAI!
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