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31
Mar11

Memórias do Círculo Cultural de Setúbal (III)

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A matriz fundadora do CCS foi o ideal de cultura, o ideal progressista. O traço comum aos seus fundadores e à generalidade dos seus associados era o antifascismo, mais ou menos expresso. As várias áreas da cultura e do conhecimento constituíram o objecto da sua actividade. Decorrente dessa matriz, toda a iniciativa promovida estava orientada para o debate, esclarecimento e enriquecimento cultural dos associados. Aos dinamizadores da actividade do CCS não eram indiferentes os problemas da comunidade  a que pertenciam. A denúncia das desigualdades e injustiças sociais surgiam naturalmente, tratasse-se da questão da habitação, da saúde, do ensino, dos direitos dos trabalhadores, da problemática da mulher, do ambiente, da guerra e da paz, etc.

No CCS discutia-se abertamente todas estas e muitas outras questões (mesmo sabendo-se que, invariavelmente, havia esbirros na sala), confrontavam-se opiniões diversas com civilidade e respeito pela diferença. Valorizava-se em primeiro lugar aquilo que unia os associados.

Mesmo no 25 de Abril de 1974, quando as instalações do CCS foram o precioso apoio para o trabalho mobilizador, organizador e esclarecedor do movimento dos democratas de Setúbal, esteve ausente a confrontação entre tendências partidárias que se foram tornando públicas. De facto, com o início da Revolução de Abril, a Direcção do CCS colocou as suas instalações e meios à disposição dos democratas, e foi lá que se realizaram as primeiras reuniões, se prepararam as primeiras manifestações, nomeadamente o grandioso 1ª. de Maio na Praça do Bocage que depois percorreu as ruas da cidade, foi no duplicador do CCS que foram impressos inúmeros comunicados, situação que se manteve até ser entregue ao MDP-CDE o antigo quartel da Legião Portuguesa.

E o CCS voltou então à sua actividade associativa, naturalmente reflectindo essa o processo revolucionário em desenvolvimento. Reflectindo sobretudo a perda da colaboração de um elevado número de activistas que se vieram a envolver em tarefas políticas e sindicais.

30
Mar11

Memórias do Círculo Cultural de Setúbal (II)

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Artº. 2º. - A associação tem por fim organizar espectáculos, conferênAcias, colóquios, mesas redondas, exposições, fundar uma biblioteca, publicar boletins, jornais e revistas, fomentar o estudo da arqueologia e da etnografia regionais e de uma maneira geral, promover todas as actividades conducentes à melhor preparação cultural dos seus associados.

 

Como ficou claro no texto anterior, a minha ligação activa ao CCS esteve circunscrita a um período de quatro anos. Logo, as minhas memórias são relativas apenas a esses anos. Fica também esclarecido desde já que não conheci directamente a actividade do CCS, dos fins de 1974 até à sua extinção, pelo que sobre esse tempo nada direi.

A génese do CCS está no Centro de Estudos Humanísticos, fundado por um grupo de jovens estudantes. O CEH contou com o apoio do Clube de Campismo de Setúbal em cuja sede dinamizava as suas actividades, e teve uma existência efémera, uma vez que cedo se perfilou a ideia de avançar para uma estrutura associativa mais abrangente e interventiva na cidade.

De facto, no verão de 1969 foi fundado o Círculo Cultural de Setúbal e aprovados os seus estatutos (cujo Artº. 2º. transcrevo acima). Tal como já havia acontecido com o CEH, também o CCS funcionou nos seus primeiros meses de existência no CCS - So em Janeiro de 1970 passou a ter sede própria na Avenida 5 de Outubro,  segundo andar e sotão do número 87. Foram fundadores, António Manuel Fráguas, Carlos Tavares da Silva, Dimas Pereira, Maria Emília Pereira, Mário Brandão Ferreira e Tito Lívio.

Até ao 25 e Abril de 1974 o número de associados rondou os 1500.  Teve um pico de crescimento resultante da criação da secção escolar. Não chegou a ser um associação de "massas".

 

Adenda: No processo de legalização do CCS, na escritura notarial celebrada em 28 de Maio de 1969 são outorgantes, Tito Lívio, Carlos Tavares da Silva, António Augusto Santos de Jesus e António Manuel Fráguas.

Coube a Carlos Tavares da Silva formular. em 02 de Junho de 1969, no Governo Civil, o pedido de aprovação dos estatutos constantes da escritura notarial.

Os primeiros Corpos Gerentes foram:

Assembleia Geral - Presidente Dr Fernando Cardoso (Secretário do Governo Civil), Vice-Presidente Professora Maria Adelaide Rosado Pinto, 1º. Secretário Dr. Manuel Gonçalves Martins, 2º. Secretário Maestro Idalino José Pinto Cabecinha;

Direcção - Presidente Tito Lívio, Vice-Presidente Drª. Maria Antonieta Gomes Baptista Garcia, 1º. Secretário Dr. António Augusto Santos de Jesus, 2º. Secretário Carlos Tavares da Silva, Tesoureiro António Quaresma Rosa, 1º. Vogal António Manuel Fráguas, 2. Vogal António Júlio de Almeida Garcia;

Conselho Fiscal - Presidente Engenheiro João Botelho Moniz Borba, Vice-Presidente Dr. Eduardo Gouveia Amaral, Secretária Relatora Maria Clementina da Silva Pereira.

28
Mar11

Ireneu Cruz, 1937-2011

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No passado sábado 27/03, faleceu Ireneu cruz, conceituado médico gastrenterologista que trabalhou no Hospital de Setúbal, entre outros. Era militante do Partido Comunista Português. Foi presidente do Conselho Científico da Universidade Popular de Setúbal.

Um "apaixonado" de instrumentos científicos e técnicos, reuniu uma valiosa colecção que doou à Câmara Municipal de Setúbal. Essa colecção esteve patente ao público pela primeira vez numa exposição organizada pela UPS, com o título Instrumentos cientíificos e técnicos a arte e a história.

Mas, Ireneu Cruz era ainda o interessante autor de vários livros: O Caso Clínico de Eça de Queirós - considerações de um gastrenterologista; Hemingway-o seu último legado; Narração da Tormentosa Viagem dos Desterrados nos Mares da Índia; A crise dos  Braganças - considerações do reinado de D. Luís (este último escrito conjuntamente com José Manuel Moreira).

 

"...Setúbal, cidade ligada ao rio e às actividades marítimas, através da presente exposição para a qual contribuíram os seus cidadãos, mostra possuir um património de instrumentos científicos, incluindo os da arte náutica, que merecia resguardo num futuro Museu que deles cuidasse, os restaurasse se necessário, elevasse a sua qualidade e angariasse novas aquisições. E, acima de tudo, que pudesse demonstrar aos vindouros, naturalmente descendentes de marinheiros e pescadores do estuário do Sado e das conserveiras de outrora, que a sua terra os respeita e não esquece." Extracto da Apresentação do catálogo da exposição, escrito por Ireneu Cruz.

24
Mar11

Memórias do Círculo Cultural de Setúbal

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A primeira vez que entrei no Círculo, 2º. andar do nº. 87 da avenida 5 de Outubro, estava lá uma exposição de fotografia. Ao entrar detive-me a olhar um placard, tipo jornal de parede. Senti-me assim como um estranho em casa alheia. Mas pouco tempo decorrido fui "posto à vontade" - um dos presentes dirigiu-se-me (tratava-se do Carlos Tavares da Silva) com aquela fórmula tipo "em que posso ser útil?". Esclareci que que havia sabido da existência do CCS e interessava-me conhecer a sua actividade. Nessa noite estavam também no Círculo o Abílio Manuel Ferreira e a Mequita, que havia conhecido meses antes na sede da CDE (na rua Paulino de Oliveira) durante a campanha eleitoral para a Assembleia Nacional.

O CTS "abriu o livro todo". Foi esclarecedor. Logo nesse dia fiquei a conhecer os canto da casa e, aquilo que pode dizer-se, o seu "bilhete de identidade"... Todavia, segundo me informou o Hélio Bexiga, não escapei (e porque razão havia de escapar?) ao "periodo de observação" já que um estranho era sempre "suspeito" de ser um provocador, o que eu compreendi perfeitamente. Apesar da informação ter sido tanta, a recepção tão acolhedora, resolvi despedir-me e sair.

Voltei no dia seguinte para visitar a já referida exposição de fotografia. "Então interessa-se por fotografia?" Foi mais ou menos isto que  serviu ao sócio presente (provavelmente era o responsável de serviço) para meter conversa (era o Alberto Sousa Pereira).

Estávamos no ano de 1970. A partir daí o CCS passou a ser uma experiência associativa intensíssima que se prologou até ao final de 1974.

17
Mar11

Poema de Carlos de Oliveira

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O jornal Avante! publicou hoje um artigo de Francisco Mota, cujo título é Gastronomias, que considerei uma delícia. Termina o dito, com um pequeno poema de Carlos de Oliveira que não resisto a transcrever:

 

Para ti, meu amor, é cada sonho

de todas as palavras que escrever,

cada imagem de luz e de futuro,

cada dia dos dias que viver.

Transpondo os versos vieste à minha vida

e um rio abriu-se onde era areia e dor.

Porque chegaste à hora prometida

aqui te deixo tudo meu amor!

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