Já antes de Abril havia uma "arte" de pintura mural. Menos elaborada. Mais breve. Era praticamente só a palavra - Por vezes com uma única palavra ficava clara a mensagem. Por exemplo: PAZ! Dizia tudo. Qualquer pessoa entendia. A inscrição rudimentar, visando salientar um acontecimento ou expressar  a indignação, uma reivindicação. Pessoalmente, estive envolvido na feitura de uma série de inscrições de parede, aquando do assassinato de Amílcar Cabral, ao longo da estrada Setúbal/Cacilhas. Não era propriamente arte, mas a preocupação de qualidade estava sempre presente. Embora as condições de execução nem sempre o permitissem... a execução dependia da maior ou menor intensidade do tráfego automóvel. A noite era a melhor ocasião.

Com o 25 de Abril há uma explosão no domínio da pintura mural, tendo por objecto a mensagem política, mas associados vincados traços artísticos e de criatividade. Não houve força política que não recorresse a esta forma de agit-prop.

É uma pena que a generalidade dessas pinturas murais, vítimas do ódio dos inimigos de Abril, tenham sido impiedosamente destruídas restando hoje pouco mais que algumas imagens fotográficas.

Odete Santos completa no dia 26 de Abril 70 anos. Veio à vida na aldeia de Pega, distrito da Guarda. Uma vida cheia. Uma vida de combates. Uma vida de intransigências quando de princípios se tratou!

Advogada competente e prestigiada entre a população setubalense. Activista política de reconhecida coerência. Desde jovem envolvida no teatro amador com fugazes passagens por companhias profissionais, deu-nos o prazer de fruir as suas interpretações de alta qualidade - foi na peça A Castro, de António Ferreira, que a vi em palco pela primeira vez, já lá vão mais de 40 anos, no Largo de Santa Maria em Setúbal. Uma verdadeira cultora da poesia - haverá alguém que não tenha assistido, nas mais diversas ocasiões, ao pontuar da sua intervenção com um poema a propósito? - a ela se deve um empenhado trabalho na divulgação dos poetas e da poesia.

70 anos completos que são, e a vida vai continuar, como a Luta. Para a Odete. Para nós todos (motivos não nos faltam...)!

Dia 26 de Abril, às 21 ,30 horas, no salão nobre dos Paços do Concelho - CMS - terá lugar um acto de homenagem com música, poesia, intervenção de várias pessoas, e, claro, da própria Odete Santos. Lá estarei.

música, poesia

A 18 de Abril de 1902 nasceu em Vila Viçosa Bento de Jesus Caraça. Filho de trabalhadores rurais, iletrados, BJC veio a ser um dos mais prestigiados cientistas portugueses. Humanista, identificado com as mais genuínas aspirações do Povo a que pertencia - o direito à liberdade em primeiro lugar - empenhado civicamente toda a sua vida. Empenhamento que lhe custou a expulsão da Universidade onde leccionava.

Deixou uma obra ímpar, em que se destaca o ensino da matemática. Foi fundador da biblioteca Cosmos que constituiu uma das mais nobres obras na difusão do conhecimento e dos saberes, num tempo de obscurantismo oficial. Nesta biblioteca composta por largas dezenas de títulos foram editados os mais brilhantes autores portugueses, das mais diversas áreas do saber.

É de inteira justiça recordar, Sempre! Um Homem que viveu com entusiasmo e em toda a plenitude o seu tempo, nomeadamente, assumindo militar no Partido Comunista Português.

Durante todo o verão de 1971 trabalhamos o Render dos Heróis, de José Cardoso Pires. Lemos e discutimos a peça, fizemos vocalizos, tivemos noções de expressão corporal - um exercício que fazíamos quase todos os dias a anteceder os ensaios era: "mãos na parede, braços esticados, pernas afastadas, girar o abdómen, mover-se até o pénis roçar na parede... - O "mestre" era o João Viegas, estudante em Coimbra e muito familiarizado com o teatro que aí se fazia.

A peça tem muitos personagens, por isso todos os dias havia uma enorme confusão nas salas do CCS. Nessa ocasião entraram várias pessoas para o Círculo pelo que, pode dizer-se, constituíram autênticos "reforços", sem os quais não havia viabilidade para o projecto.

Coube-me o papel do Cego. foi divertido, gostei do personagem embora, verdadeiramente eu nunca tenha conseguido vestir a pele do Cego. Mas lá me fui desenrascando

Por vezes o João Monteiro fazia gazeta. Como o Cego não contracenava com o Padre Casimiro, foi decidido que eu nessas situações faria também o Padre Casimiro. Só que eu não sabia todas as "deixas", pelo que tinha de inventar e fazer perceber isso a quem falaria a seguir...

O Ensaio geral aconteceu na sala de uma colectividade de Palmela, qual delas já não me ocorre.

Gostaria de inserir aqui os nomes dos personagens e respectivos interpretes, mas já não o consigo fazer, nem mesmo recorrendo à ajuda de alguns participantes, há várias pessoas cujo paradeiro desconheço, pelo que me limito a referir alguns dos interpretes:

Caferra, Cármen, Carolina Branco Santos, Ção Matos, Eduardo Correia, João Monteiro, João Viegas (encenador) ,João Lagarto, Jorge Luz, Lena, Luísa Paderne, Luísa Agostinho, Luísa Branco Santos, Luís Matos, Manuel Murta, Peres, Quim Sobral (era o técnico de luzes e som), Rogério Palma Rodrigues, Teodósio.

Este desenho corresponde à pessoa que desempenhava o  personagem o Cego, d'Render dos Heróis. Suponho que o Peres também desenhou outros personagens. Normalmente esta actividade do Peres era executada depois dos ensaios, altas horas da noite no Arca Doce, onde íamos "cair" e ficávamos até os empregados correrem connosco para fecharem a porta.

Esta é uma gracinha da minha camarada CMM, enviada por correio electrónico...