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08
Abr11

Memórias do Círculo Cultural de Setúbal (VI)

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O teatro foi uma das vertentes da intervenção do CCS. Divulgação de textos, debates, ensaios, montagem e representação de peças foram actividades desenvolvidas.

O CCS trouxe a Setúbal o TEUC (teatro dos estudantes da Universidade de Coimbra) , que representou Mackbeth, de W. Shakespeare, no salão do INATEL. Para divulgação deste espectáculo foi editado um cartaz tamanho A3, que consistia numa montagem de recortes de jornal, que tinha inserido um rectângulo com cerca de 10X5cm sobre a peça e o local da representação. Guardei um exemplar mas não consigo descobrir o seu paradeiro.

A partir do CCS, informalmente, organizaram-se grupos de associados para idas ao teatro - a Lisboa (Quem matou Vírginia Woolf, de Edward Albee), à Baixa da Banheira (A forja, de Alves Redol), ao Ateneu Setubalense - ou para participar em debates noutras associações, caso de um na Academia Luísa Todi em que o convidado foi o actor Rogério Paulo.

Na sala maior do CCS foi representado o Auto do Curandeiro, de António Aleixo, de "produção" caseira com interpretação de Carlos Luz, Manuel Murta e um terceiro elemento cujo nome não recordo.

Foi ensaiada uma experiência de teatralização do poema SARL, de Ary dos Santos.

No acanhado sótão fazíamos muitas leituras e discussões - as experiências do polaco Grotovsky, as teorias de Brecht, de Piscatori, de Peter Weis. É minha convicção que nessas abordagens havia presunção e água benta à fartazana... Uma noite apareceu, sem ser esperado, o José Cardoso Pires. Ouviu muito e falou quase nada. Estava muito sensibilizado por termos trabalhado na sua peça O Render dos Heróis.

Devorávamos livros sobre teatro - Teatro popular, teatro burguês, teatro e vanguarda, teatro documental, teatro comercial, teatro independente - trabalhamos todo um verão n'O Render dos Heróis.

Por duas ou três vezes tivemos a presença do Lourenço da farmácia Bocagiana, o Lourenço da Conceição, homem do Ateneu. Não era do Círculo, mas toda a gente era bem recebida. O homem tinha experiência, sabia umas coisas, mas torcia o nariz ao teor das abordagens que se faziam no Círculo. Todavia, teve alguma utilidade porque ajudou, pelo menos a mim, a perceber melhor aspectos como técnicas de respiração, postura e movimento em palco, as tais posições aristotélicas.

06
Abr11

Memórias do Círculo Cultural de Setúbal (V)

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O núcleo de fotografia visava incutir o gosto dos associados por esta actividade. dispunha de uma câmara escura que permitia a realização de trabalhos no próprio Círculo. Promovia regularmente exposições e organizava cursos de iniciação. Neste núcleo o Alberto Sousa Pereira tinha um papel de extrema importância. Foi ele que orientou o curso de iniciação em que participei. Esse curso consistiu em trabalho teórico, prático e visita a um estúdio profissional.

A parte teórica, para além do Sousa Pereira, teve também a contribuição do senhor Grão que foi uma noite ao Círculo falar da sua experiência profissional - recordo a sua boa disposição e a frequência da expressão "a conversa é como as cerejas" para justificar a passagem de uma para outra questão, prendendo facilmente o auditório...

A visita, logicamente foi ao Estúdio Grão-Foto (propriedade do senhor Grão), que funcionava na avenida 5 de Outubro, onde hoje está a parte mais recente da drogaria Alice, tendo o sr Grão mostrado todo o equipamento e dado oportunas explicações.

Cada participante no curso recolheu imagens e, finalmente praticamos as técnicas de câmara escura.

A propósito da câmara escura, confesso que foi o único meio do CCS que usei para fins exteriores ao CCS. Havia conseguido que me emprestassem uma colecção de fotos tiradas em Moçambique, que documentavam atrocidades cometidas por militares portugueses. Para obter cópias, a única solução era ser eu próprio a fazê-lo (no que tive a colaboração do Jorge Luz). Essas cópias vieram a ser muitos úteis para a denúncia da violência praticada na guerra colonial.

04
Abr11

Memórias do Círculo Cultural de Setúbal (IV)

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A estrutura interna do CCS assentava em núcleos e secções que desenvolviam as actividades respectivas. Arqueologia e antropologia; Fotografia; Biblioteca; Teatro; Cinema, foram núcleos com iniciativas interessantes, passando por períodos de maior ou menor dinamismo, consoante a disponibilidade das pessoas que envolviam.

A secção escolar, criada fundamentalmente para trabalhadores estudantes, foi uma pedrada no charco, se tivermos em conta o panorama do ensino de então. O ensino pós laboral em Setúbal só existia na Escola Industrial e Comercial (que eu frequentava). O conjunto dos professores que asseguravam as aulas era constituído por sócios do CCS, que desempenhavam essa tarefa com elevada dedicação e profissionalismo, sem auferirem qualquer remuneração - era, como em tudo no CCS, pura militância associativa. Bem pôde o CCS orgulhar-se desta sua realização que foi a secção escolar.

Pessoalmente, para além de ter integrado a Direcção durante um mandato (cujo presidente foi o António Manuel Fráguas) participei no núcleo de teatro, colaborava na biblioteca, na impressão de documentos. Fiz um curso de iniciação à fotografia e assisti a uma infinidade de iniciativas.

A biblioteca do CCS ocupava um pequeno cubículo do sótão,  e consistia numas escassas centenas de livros, que ajudei a organizar, nomeadamente o seu ficheiro. 

A propósito de livros, recordo que pelo menos para mim, talvez mais importante que a biblioteca, o CCS propiciava os contactos entre sócios e o empréstimo de livros entre eles. Foi desta forma que tive oportunidade de ler muitas obras sem necessidade de comprar.

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