Como freguês que sou - todos os portugueses são fregueses! - fui à manifestação convocada pela ANAFRE. Enganam-se os que entendem que essa luta é só dos eleitos das Freguesias. Não, meus caros. É de todos nós!
As Juntas de Freguesia são o Órgão de Poder mais próximo dos cidadãos. E tanto mais próximo é, quanto maior é o isolamento e a interioridade. Este facto ficou patente no desfile de hoje, em que estavam, pois claro, os eleitos, mas com eles estavam largos milhares (já ouvi referir 200 mil) de cidadãos que os reconhecem como os seus mais genuínos representantes. Os que estão no local nas boas e nas más horas. Os que prestam um serviço à comunidade, cada vez mais importante. E não apenas os cidadãos individualmente considerados. Também lá estiveram em massa as Organizações locais - Ranchos Folclóricos, Grupos Corais, Bandas de Música, Comissões de Jovens, Colectividades Recreativas, Associações Desportivas, etc, etc, etc.
Nunca tinha visto um desfile assim. Tão belo. Tão colorido. Tão diversiificado. Tão português!
Será possível que os Relvas e companhia, os "contabilistas" de serviço não parem para pensar no significado deste protesto, desta rejeição do projecto que, cegamente, prevê extinguir cerca de um terço das Freguesias?
O Jornal Público de hoje divulga uma imagem espectacular do cérebro humano, obtida por ressonância magnética. Com a imagem, são notícia os novos progressos no conhecimento daquele emaranhado órgão onde é processada a inteligência, alcançados pela equipa de neurocientistas coordenada pelo Dr Van Wedeen, da Universidade de Harvard. Devo confessar que me deslumbra tudo o que é relacionado com este assunto.
Estamos a viver um tempo em que a chuva tem estado ausente. Tivemos um Inverno praticamente seco. Qualquer pessoa de bom senso vive inquieta com as consequências de tal situação.
Até a ministra Cristas diz que reza a pedir chuva...
Contaram-me que no Escoural, os mais convictos adeptos dos milagres resolveram promover uma operação de mudança temporária da santa do livramento para a igreja de S. Brissos, levando-a em procissão. Com isto, expuseram a imagem a uma situação embaraçosa. Se, por mero acaso tivesse chovido era milagre, mas isso não aconteceu frustrando a fé dos crentes, restando-lhe concluir que a santa os não atendeu, não se livrando de alguns juízos de ingratidão, perante tamanha devoção.
Ora, a pobre imagem , que não é vista nem achada nos mistérios meteorológicos, podia ter sido poupada a este embaraço.
Mas um dia destes choverá! Simplesmente porque é próprio da Mãe Natureza! Choverá quando os fenómenos naturais se conjugarem para tal. Mesmo já depois de terem ocorrido danos irreparáveis. E mais uma vez afirmo que por estes danos a santinha não tem culpa nenhuma. Havendo culpados, somos nós os humanos...
Talvez valha a pena reflectir um pouco sobre o assunto. Há muito os especialistas em questões ambientais vêm alertando a opinião pública sobre o fenómeno chamado alterações climáticas. Sobre causas e consequências. Quanto às primeiras, tenho a opinião que o Homem tem pesadas responsabilidades. Os progressos técnicos têm-nos proporcionado uma superior qualidade de vida - só um pequeno exemplo: comemos hoje aquilo que foi colhido ontem a milhares de quilómetros de distância...
Para o nosso bem estar, hoje, não olhamos a meios, comprometendo dessa forma o equilíbrio da nossa casa comum. Produzimos milhões de toneladas de CO2. Consumimos energias fósseis, até à exaustão. Em suma, produzimos os factores que interferem no tal equilíbrio.
Em conclusão, temos o resultado da nossa acção. Somos os responsáveis únicos por aquilo que é chamado aquecimento global. À parte os caprichos da Mãe Natureza, algo depende dos seres que somos nós os humanos. Outros recursos, como seja a intervenção divina, não passam de ilusões.
Esta é a Anta Capela de onde saiu a santa residente.
Em 1972 publicou a Seara Nova, um trabalho de Lino de Carvalho e Gorjão Duarte - As cooperativas em questão - que precisei agora de consultar. No interior do livro encontrei um recorte do jornal Republica (sempre tive a mania de guardar recortes) que será de 1972 ou 1973.
Este pequeno recorte mostra bem como se passavam as coisas na época - era o tempo da "primavera" marcelista: Uma cooperativa desenvolvia uma actividade cívica, cultural, de esclarecimento. E o Poder da ditadura decidia, pura e simplesmente a sua extinção!
Volvidos que são quarenta anos, o Poder actual não ousa (estou convencido que não voltará a ousar) proceder de igual forma. Mas, não se pense que para as actuais cooperativas, tudo é um mar de rosas... O Poder do Deus Dinheiro aliado ao Poder dos "contabilistas", cria situações tais que acabam por conduzir a desfechos como é o caso da Pluricoop, a minha cooperativa.
A toponímia da freguesia do Escoural está repleta de referências revolucionárias. À maioria dos largos e ruas foram atribuídos nomes de pessoas profundamente identificadas com a Democracia e o Progresso, com a luta antifascista, com acontecimentos revolucionários. Vejamos:
O espaço mais central da vila, conhecido desde 1908 por Largo da Fonte é, oficialmente, Praça da Republica, em homenagem ao regime republicano implantado em 1910.
Afonso Costa, António José de Almeida, Bernardino Machado, Cândido dos Reis, Machado dos Santos, Magalhães Lima, Miguel Bombarda e Teófilo Braga, são figuras ligadas ao regime republicano, cujos nomes figuram há muito nas placas que identificam ruas do Escoural.
O General Humberto Delgado, candidato da oposição democrática à Presidência da Republica, em 1958, que perdeu, vítima da mais escandalosa falcatrua eleitoral de que há memória vindo mais tarde a ser assassinado pela PIDE.
Alfredo Dinis e Militão Bessa Ribeiro, assassinados pela PIDE, Germano Vidigal e José Adelino dos Santos, assassinados pela GNR, todos destacados lutadores antifascistas.
Salvador Joaquim do Pomar, escouralense militante antifascista e preso político.
Casquinha e Caravela, escouralenses obreiros da Reforma Agrária, assassinados pela GNR quando se batiam, precisamente em defesa da Reforma Agrária.
Joaquim Carvalho Luís - o soldado Luís - vítima mortal das forças contra-revolucionárias que tentavam derrotar o 25 de Abril e as suas conquistas.
Ainda na área da freguesia, em Casa Branca estão atribuídos os nomes de Catarina Eufémia, assassinada pela GNR quando lutava pelo direito ao trabalho e ao salário, e também as datas do 25 de Abril e do 1º. de Maio.
Baseado na obra do francês Victor Hugo (um verdadeiro hino de denúncia da intolerância e da discriminação), este filme de animação da Disney mostra-nos, de algum modo, práticas que felizmente hoje consideramos aberrantes.
Acedendo ao convite feito pelos delegados da Associação dos Trabalhadores Ruraes de S. Tiago do Escural, que se encontravam em Montemor, vizitamos à noite aquela localidade, onde fizemos uma sessão de propaganda na séde da mesma Associação. Eziste ali, além da Associação dos Ruraes, a Associação das Classes Mixtas, que, tendo pouco mais de quatro mezes de vida, conta já 66 associados numa população de menos de 100 operários de várias indústriais, o que é animador. A vida é carissima, e o analfabetismo, como em toda a parte, é em abundancia. Os jornaes dos ruraes, que no tempo das ceifas e da cortiça teem uma média de 700 réis, nas outras epocas variam entre 400 e 500 réis, sendo a sua bela organização quem mantem o respeito dos lavradores pelos direitos adquiridos. Tem a Associação dos Ruraes um ano de ezistencia, sendo a população rural aprocimadamente de 600 homens; estão filiados na Associação 516 trabalhadores. Ezistem nas procimidades do Escoral 4 minas de cobre e ferro em que trabalham, além de 50 mineiros, muitos trabalhadores ruraes em epocas diferentes. Estão também estudando a organização de uma caixa auciliar para manter uma escola e vestir cada ano oito creanças filhas dos socios mais necessitados. A população, acentuadamente revolucionaria, é inteligente, vivendo numa harmonia digna de nota. O Sindicalista é lido ali com interesse pela classe trabalhadora, o que tem tambem contribuido para a formação de consciencias, havendo não só nos ruraes como tambem nas outras classes camaradas dedicados e incansaveis na propaganda, o que lhes vale os odios dos burgueses da localidade e procimidades.
Antonio Enriques e Manoel Afonso, relatorio dos delegados da Comissão Ezecutiva do Congressos Sindicalista, em missão de propaganda, publicado no jornal operário "O Sindicalista". Acrescento aqui um pormenor: Francisco Neves e António Tourinho representaram o Escoural, como Delegados ao II Congresso dos Trabahadores Rurais, que se realizou em Évora, nos dias 5 a 7 de Abril de 1913.
O texto acima transcrito é de 1912 e consta de "O Sindicalismo no Alentejo a "tournée" de propaganda de 1912" de António Ventura. è um relato que nos permite perceber a predominância de uma elevada consciência de classe, uma elevada compreensão da importância da organização e da unidade para os combates na defesa das sua reivindicações. Repare-se na expressão do número de associados da Associação de Classe dos Trabalhadores Rurais do Escoural: 86%! Por outro lado, a Associação de Classes Mistas contava com 66 sócios num universo inferior a 100 profissionais. Tais números reflectem de facto uma muito elevada consciência revolucinária, traço dominante que se manteve e mantêm entre a população escouralense. Atente-se no que, a propósito das greves de 1912, escreve José Pacheco Pereira (em "as lutas operárias contra a carestia de vida em portugal a greve geral de novembro de 1918"):Uma das características mais importantes do movimento operário dos anos 10 e 20 é a ligação entre o proletáriado citadino, particularmente de Lisboa, e o proletariado rural do Alentejo e Algarve, e da greve geral de 1918: No Alentejo, os combativos trabalhadores rurais iniciam a greve nalguns dos baluartes mais importantes do sindicalismo rural: S. Manços, Redondo, Torre de Coelheiros, Montemor, S. Tiago do Escoural, Vale de Santiago, Odemira, etc.
E essa combatiividade continuou na firmeza assumida na resistência ao regime fascista de Salazar, nas Praças de Jorna que funcionaram durante décadas, na participação activa no inicio dos anos 60 na luta pelas 8 horas, luta esta vitoriosa (um desafio muito atrevido, no dizer de António Gervásio) de nada servindo o poderoso aparelho repressivo face à determinação dos trabalhadores em acabarem com o degradante trabalho de Sol a Sol! Foi, a partir daí passarem a comemorar o 1º. de Maio, das mais diversas maneiras, nomeadamente faltando ao trabalho. Foi a adesão aos ideais revolucionários do 25 de Abril, em que sobressai a realização da Reforma Agrária e a escolha em eleições, dos candidatos da força mais consequente - PCP/CDU - para governar a freguesia.