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27
Abr12

Escoural, minha terra - IX

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Um alentejano nunca canta sozinho! Disse o poeta. O Alentejo tem um património único:  o Cante! O cante alentejano, cantado em grupo, um pouco por todo o Alentejo. Mas tem também o cante ao despique, o cante ao baldão, a viola campaniça, o vocal/instrumental coreografado.

Estranhamente, o Escoural não tem uma tradição neste domínio. Não consegui ainda compreender o porquê. Na verdade, é minha convicção ser suposto  haverem todas as condições para que tal acontecesse - sempre houve uma comunidade coesa e solidária; geograficamente distante de outras localidades, tal podia/devia ter potenciado a criação de uma identidade própria - todavia, não existe um espólio que se aproxime de uma espécie de cancioneiro local, nunca existiu um coral alentejano, à semelhança dos existentes noutras localidades (como em Alcáçovas, aqui tão perto), se exceptuarmos o José Simão (que integra o Grupo coral Os Alentejanos da Damaia) não são conhecidos cantadores escouralenses. Tão pouco foi hábito promover actuações de corais alentejanos no Escoural. Na composição poética, os poetas populares entre os nativos da freguesia, contam-se pelos dedos da mão, ocorrem-me os nomes de Chica Estreitinho, do Horácio Parreira e do José Ferrão (de S. Brissos).

Tal quadro não significa que o povo do Escoural não cantava, não canta. Mesmo a não existência de uma identidade e expressão locais, não é sinónimo de não se cantar. Sempre se cantou, nos ranchos no trabalho, nas adiafas, nas tabernas. O cante ao despique era frequente entre os trabalhadores rurais, sobretudo em redor de um petisco e do copo de vinho.

Existe actualmente um caso, segundo ouvi relatar, de muito interesse, o coral feminino As Escouralenses, de formação recente. Torço para que se consolide.

24
Abr12

Escoural, a minha terra - VIII

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A Ferrenha está na minha memória desde os 5, 6 anos. Então, eu acompanhava a minha avó materna a visitar a irmã, minha tia avó Felizarda, ao monte da courela, outras vezes com a minha tia Joaquina da courela (assim alcunhada por ter sido criada naquele monte). Pelo caminho passávamos à Ferrenha e, era inevitável eu ter sede! Sede que eu invocava mal saia de casa... Depois íamos beber, na mão em concha, da minha avó ou tia - eu não bebia quase nada, pois na verdade nem sede tinha - "tens mas é sede de passarinho" diziam-me. E o tempo que demorávamos junto da nascente era demasiado pouco para eu contemplar o brotar da água daquela ranhura da rocha. Aquilo era um fascínio!

Se aquela nascente falasse tinha muito para contar! Os namoricos, o diz-que-disse das comadres...

Hoje, tomo a liberdade de publicar um texto do meu grande amigo Francisco Carvalheira sobre a Ferrenha, escrito há já vários anos, do qual me ofereceu uma cópia:

 

A Ferrenha é o monumento mais histórico da Vila do Escoural, não tem limite de "era". A Ferrenha ultrapassa todos os monumentos que existem na Vila do Escoural, seja igreja, minas, grutas, conventos ou azenhas. A ferrenha é o monumento mais importante do Escoural, A Fonte da Ferrenha foi dada pela natureza, tem uma caldeira também dada pela natureza. A caldeira teve alturas que não dava para encher um cântaro de água, ou beberem. Foi por esse motivo que lá meteram os tiros, é a melhor testemunha de sempre.

A Ferrenha, no meu pensamento, não tem outro monumento igual. A Ferrenha tem séculos e também tem milhares de anos. Fala-se na idade da Gruta em 50.000 anos, mas eu não sei qual é que será mais velha. A Ferrenha rebenta água pela rocha que lá existe dada pela natureza - tenho 85 anos de idade e só me lembro dela secar apenas duas vezes. Mas a Ferrenha tem outra fonte, à distância de 3 metros uma da outra, que está tapada e é feita de alvenaria, que até hoje nunca secou.

A Ferrenha foi dada pela natureza e então, ultrapassa todas as coisas históricas da Vila do Escoural. E tem direito a uma estrada e a uma parque de merendas - para isso bastava a desanexação de 1.000 metros de terreno da Herdade das Casas Novas.

É a parte mais rica da Vila do Escoural em água, a Ferrenha tem outra nascente à distância de 80 metros, dentro da ribeira, a que chamavam a fonte do Arlindo, feita pelo próprio, e tem outra nascente na Herdade da Malaca, à distância de cerca de 12 metros, à entrada da ladeira da Ferrenha, e mais abaixo tem uma represa que não tem explicação em água. É aí que os tractores enchem os depósitos de água.

Voltando à Ferrenha, na Era de 1930-1974 tinha uma grande tiragem de cântaros de água, não estava meia hora que não saísse um cântaro de água. Bebiam da Ferrenha 203 pessoas. Da parte de baixo da Ferrenha eram nove Montes:

 Barata - um caseiro; Azinhaga - dois caseiros; Cavaleiro (um dos montes mais importantes da Vila do Escoural, de pedra trabalhada, tinha 1º. andar e foi local de estadia de Vasco da Gama. Foi destruído pelo actual dono, Alfredo Justino) - dois caseiros; Quinta do Cavaleiro - um caseiro, tinha 10 pessoas; Grou (também destruído pelo Alfredo Justino) - um caseiro, tinha 7 pessoas; Quinta Seca - um caseiro, 2 pessoas; José Pereira - um caseiro, t3 pessoas; Martinho Alqueva - uma caseiro, 5 pessoas;  Cagulos - dois caseiros, 14 pessoas.

A parte de cima da Ferrenha tinha seis Montes:

Azenha - sete caseiros, tinha 41 pessoas; Courela - dois caseiros, tinha 13 pessoas; Malaca - dois caseiros, tinha 12 pessoas; Quinta da Majufa - sete caseiros, tinha 41 pessoas; Casas Novas - dois caseiros, tinha 12 pessoas; Casas Novas de Cima - 1 caseiro, tinha 7 pessoas.

Soma ao todo 203 pessoas que bebiam da Ferrenha, e soma 33 caseiros, e Montes soma 15.

Toda esta "família" bebia da Ferrenha, não falando da Caeira, quando trabalhava.

A Ferrenha fica na Herdade das Casas Novas, cujo proprietário era o senhor Simplício da Silva Zorro, nascido cerca de 1864.

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