Descascando a cebola
Aquilo que eu aceitei com o estúpido orgulho dos meus anos de juventude, tentei, depois da guerra, movido por uma crescente vergonha, ocultar perante mim próprio.
Descascando a cebola, a autobiografia do celebrado escritor alemão (prémio Nobel) Günter Grass, recentemente falecido, que constituiu uma revelação desconcertante sobre a sua participação na juventude hitleriana, só agora li.
O recurso a esta metáfora - o descascar da cebola - é uma forma brilhante de abordagem/revelação de um período em que, ainda criança (12 anos) entrou na organização juvenil nazi, numa Alemanha dominada doentiamente por uma ideologia aterradora que integrava uma propaganda ardilosa visando facilitar a adesão das pessoas. Günter Grass descascou a cebola com a genialidade própria dos grandes autores.
Descascando a cebola é a tentativa de redescobrir um jovem que hoje me é estranho e de questionar o meu comportamento em determinadas situações.
(Günter Grass foi também artista plástico)