O dia 13 de Junho de 2005 foi implacável. Levou duas figuras ímpares da vida nacional: Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade.
Álvaro Cunhal deixou marcas indeléveis na política nacional e internacional e (com o pseudónimo de Manuel Tiago) uma criação impressiva na literatura a nas artes plásticas.
Eugénio de Andrade, um Homem comprometido com o seu Povo e um poeta maior, como tal celebrado pelos seus contemporâneos e, continuará a ser celebrado ao longo do tempo pelas gerações que hão-de vir.
O século 20 não é, como proclamam alguns, o século da morte do comunismo, mas o século em que o comunismo nasceu.
Álvaro Cunhal
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
(O comum da terra, para Vasco Gonçalves, de Eugénio de Andrade)