(O grande acontecimento que marca a minha primeira infância é o fascismo. A minha infância foi triste, cruel (...) As crianças pobres assistem à humilhação dos pais (...) O fascismo é isso. Achar que há seres humanos de primeira e seres humanos de segunda. O segundo momento da minha vida foi o 25 de Abril, é óbvio. Foi a restituição da dignidade merecida.)
Há cerca de vinte anos, quando me mudei para Hanói, a cidade estava sombria, cinzenta, coberta de fumaça. A guerra terminara, mas permaneciam terríveis cicatrizes.
Eu trouxe o meu veículo com tração às quatro rodas do Chile e insisti em conduzi-lo pessoalmente. Foi um dos primeiros SUV da cidade. Cada vez que conduzia, era atingido por scooters, que voavam como projéteis pelas amplas avenidas da capital.
Hanói era linda, melancólica, mas claramente marcada pela guerra. Havia histórias, histórias terríveis do passado. Nos "meus dias", o Vietname era um dos países mais pobres da Ásia.
Muitos patrimónios históricos, incluindo o Santuário My Son, no Vietname Central, eram basicamente vastos campos de minas, mesmo muitos anos após os terríveis bombardeios dos EUA. A única maneira de visitá-los era em veículos militares de propriedade do governo.
O prédio onde eu morava literalmente surgiu do infame "Hanói Hilton", a antiga prisão francesa onde os patriotas e revolucionários vietnamitas eram torturados, violentados e executados e onde alguns pilotos americanos capturados foram mantidos durante o que é chamada no Vietname a Guerra Americana. Da minha janela, podia ver uma das duas guilhotinas no pátio do que então se tinha tornado um museu do colonialismo.
Em 2000, Hanói não tinha um único centro comercial e, quando chegámos, o terminal do aeroporto Noi Bai era apenas um pequeno edifício, do tamanho de uma estação de ferroviária da província.
Naqueles dias, para o povo vietnamita, uma viagem a Bangkok parecia uma viagem a uma galáxia diferente. Para jornalistas como eu, que moravam em Hanói, uma viagem regular a Bangkok ou Singapura era uma necessidade absoluta, pois quase nenhum equipamento profissional ou peças de substituição estavam disponíveis no Vietname.
Duas décadas depois, o Vietname tornou-se um dos países mais confortáveis da Ásia. Um lugar onde milhões de ocidentais adorariam viver.
Sua qualidade de vida cresce continuamente. Seu modelo socialista e de planeamento central são claramente bem-sucedidos. O Vietname parece a China, há cerca de vinte anos. Existem magníficos passeios nas cidades de Hue e Danang, há a construção de modernas redes de transporte público, além de instalações desportivas. Tudo isto contrasta fortemente com a extrema tristeza capitalista de países como a Indonésia e mesmo a Tailândia. O povo vietnamita conta com a melhoria constante do saneamento, assistência médica, educação e vida cultural. Com um orçamento relativamente pequeno, o país está em muitas situações a par de nações muito mais ricas da Ásia e do mundo.
Seu povo está entre os mais otimistas do mundo. Nos três anos em que morei no Vietname, o país mudou drasticamente. A tremenda força e determinação do povo vietnamita ajudaram a colmatar o vazio deixado após a destruição da União Soviética e dos outros países socialistas da Europa Oriental. Assim como a China, o Vietname optou, com êxito, por uma economia mista, sob a liderança do Partido Comunista.
As intensas tentativas dos EUA e de países europeus de desviar o país do sistema socialista, usando ONGs e indivíduos patrocinados pelo Ocidente dentro do país, foi identificada e derrotada decisivamente. Facções pró-comunistas e pró-chinesas dentro do governo e do Partido dominaram aqueles que tentavam empurrar o Vietname para o Ocidente. O que se seguiu foi um sucesso significativo, em muitas frentes.
De acordo com o relatório Southeast Asian Globe, publicado em 1 de outubro de 2018, "o Vietname obteve o melhor desempenho em 151 países num estudo que avaliou a qualidade de vida versus sustentabilidade ambiental".
Esta não é a primeira vez que o Vietname tem um desempenho excecional, quando comparado a outros países da região e do mundo. O artigo explica mais adiante:
"O amplo estudo, chamado "Uma boa vida para todos dentro dos limites planetários", publicado por um grupo de investigadores da Universidade de Leeds, argumenta que precisamos repensar dramaticamente a maneira como vemos o desenvolvimento e a sua relação com o meio ambiente.
"Estávamos a trabalhar basicamente com vários indicadores e relações diferentes entre resultados sociais e indicadores ambientais", disse Fanning ao Southeast Asia Globe. "Tivemos a ideia de que se estávamos a analisar indicadores sociais, poderíamos definir um nível que seria equivalente a uma vida boa".
A pesquisa incluiu 151 países e o Vietname mostrou os melhores indicadores.
"Os investigadores estabeleceram 11 indicadores sociais que incluíam satisfação com a vida, nutrição, educação, qualidade democrática e emprego"."Surpreendeu-nos que o Vietname se tenha saído tão bem no geral", disse Fanning. "Podia esperar -se que fosse a Costa Rica ou Cuba, pois o Vietname normalmente não aparece como um herói da sustentabilidade". Fanning estava a referir-se a dois países que os pesquisadores esperavam ter bom desempenho, já que geralmente fornecem um bom apoio social e não viram o mesmo dano ambiental que muitos países tiveram".
Mas este não é o único relatório que celebra o grande sucesso do modelo socialista do Vietname. Na região do sudeste da Ásia, o Vietname já ganhou a reputação de uma estrela económica e social. Em comparação com o fundamentalismo pró-mercado da Indonésia ou mesmo das Filipinas, as elegantes cidades socialistas do Vietname projetadas e mantidas para o povo, bem como a paisagem cada vez mais ecológica, mostram claramente qual dos dois sistemas é superior e adequado para o povo asiático e sua cultura.
Em tempos de graves emergências, de desastres naturais e médicos, o Vietname também está bastante à frente de outros países do Sudeste Asiático. Tal como Cuba e a China, tem investido fortemente na prevenção de calamidades.
Segundo a New Age, os estados socialistas, incluindo o Vietname, fizeram um excelente trabalho lutando contra o recente surto da pandemia do Covid-19:
"Países em desenvolvimento como Cuba e Vietname, com estruturas e filosofia socialistas ou comunistas, lidam com sucesso com a pandemia do Covid-19. Quais as as estratégias económicas e de saúde de longo prazo por trás desse sucesso? O médico Talebur Islam Rupom faz essa pergunta e estipula que é mais do que tempo dos Estados investirem fortemente nos sectores da saúde para garantirem assistência médica para todos".
"Os países com sistemas de saúde subsidiados centralmente ou totalmente financiados estão a enfrentar a crise do Covid-19 melhor do que qualquer outro país. Existem também várias outras razões pro-ativas que permitem diminuir as mortes e os casos positivos.
Cuba e Vietname são dois países em desenvolvimento que se mobilizaram rapidamente para lidar com a ameaça emergente. Apesar do embargo e das restrições dos Estados Unidos e dos recursos limitados, o tratamento da pandemia por Cuba pode ser um exemplo para outros.
Com uma economia menor que o Bangladesh, o Vietname também ganha credibilidade para reiniciar a sua economia depois de erradicar o Covid-19 do país, apesar de partilhar uma fronteira crucial com a China."
No final de maio de 2020, quando este ensaio estava a ser escrito, a República Socialista do Vietname, com 95,5 milhões de habitantes, registava apenas 327 infeções e zero mortes, segundo dados fornecidos pela Universidade Johns Hopkins. [NT]
Mesmo a revista britânica de direita, The Economist, não podia ignorar o grande sucesso na luta contra o Covid-19 em Estados comunistas, como o indiano Kerala e o Vietname:
"…Com 95 milhões de pessoas, o Vietname é um lugar muito maior. Ao lidar com o Covid-19, no entanto, seguiu um roteiro surpreendentemente semelhante, com um resultado ainda mais impressionante. Como Kerala, foi exposto ao vírus mais cedo e viu uma onda de infeções em março. Os casos ativos também atingiram o pico mais cedo, no entanto, caíram para apenas 39. Exclusivamente entre países de tamanho remotamente semelhante e, em contraste com histórias de sucesso mais conhecidas como Taiwan e Nova Zelândia, ainda não sofreu uma única confirmação de fatalidade. As Filipinas, um país próximo com aproximadamente a mesma população e riqueza, sofreram mais de 10 000 infeções e 650 mortes.
Assim como Kerala, o Vietname recentemente enfrentou epidemias mortais, durante os surtos globais do Sars em 2003 e da gripe suína em 2009. O Vietname e Kerala beneficiam de um longo legado de investimentos em saúde pública e, particularmente, nos cuidados primários, com uma gestão forte e centralizada, um alcance institucional desde bairros da cidade a vilas remotas, com abundância de pessoal qualificado. Não por coincidência, o comunismo tem sido uma forte influência, como ideologia incontestada no Vietname e como uma marca divulgada pelos partidos de esquerda que dominam Kerala desde os anos 50".
Algumas análises, mesmo produzidas no Ocidente, chegam ao ponto de afirmar que o Vietname já ultrapassou muitos países da região, incluindo aqueles que são, pelo menos no papel, muito mais ricos.
A Deutsche Welle (DW), por exemplo, relatava em 22 de maio de 2020: "Adam McCarty, economista-chefe da empresa de pesquisa e consultoria Mekong Economics, espera que o Vietname beneficie amplamente da forma como lidou com o Covid-19. Talvez este seja um ponto de viragem no qual o Vietname deixa o grupo de países como Camboja e Filipinas e se junta a países mais sofisticados como Tailândia e Coreia do Sul, mesmo que o Vietname ainda não tenha um PIB semelhante", disse McCarty à DW de Hanói.
"Com o resto do mundo ainda sofrendo com o Covid-19, as exportações realmente serão prejudicadas", disse McCarty. O economista enfatizou que as coisas não podem simplesmente voltar ao que eram. Embora o consumo interno possa aumentar nos próximos meses, um crescimento de 5% para 2020 pode ser muito ambicioso. "Provavelmente será mais como 3%, mas ainda é bom nestas circunstâncias. Ainda significa que o Vietname é um vencedor".
Volto periodicamente ao Vietname. Uma coisa impressionante que noto é que o país não tem favelas, a miséria extrema tão comum no capitalismo brutal da Indonésia e Filipinas, mas também no Camboja e na Tailândia. Não há miséria nas cidades, vilas e campos vietnamitas. Isto por si só é um enorme sucesso.
O planeamento comunista significa que a maioria dos desastres naturais e de saúde são bem prevenidos. Quando morava em Hanói, as vastas e densamente povoadas áreas entre o rio Vermelho e a cidade eram inundadas anualmente. Gradualmente, o bairro foi realojado e vastas áreas verdes foram reintroduzidas, impedindo que a água chegue à cidade.
Passo a passo lógico, o Vietname vem implementando mudanças projetadas para melhorar a vida dos cidadãos. Os meios de comunicação de massa no Ocidente e na região escrevem muito pouco sobre este "milagre vietnamita", por razões óbvias.
Com tremendo sacrifício, os cidadãos vietnamitas derrotaram os colonizadores franceses e depois os ocupantes dos EUA. Milhões de pessoas desapareceram, mas uma nação nova, confiante e poderosa nasceu. Literalmente ressuscitou das cinzas. Construiu o seu próprio "modelo vietnamita". Agora, mostra o caminho aos países muito mais fracos e menos determinados do sudeste da Ásia; aqueles que ainda estão a sacrificar os seus próprios cidadãos, em obediência aos ditames da América do Norte e da Europa.
De um dos países asiáticos mais pobres, o Vietname tornou-se um dos mais fortes, determinados e otimistas.
Faz 70 anos que começou a guerra da Coreia, uma das mais bárbaras da História e que evidenciou a natureza criminosa do imperialismo dos EUA.
Em 1950, a II Guerra Mundial terminara há apenas cinco anos.
O papel decisivo da URSS e dos comunistas na Vitória sobre o nazi-fascismo elevara o seu prestígio.
Por toda a parte os povos assumiam-se como protagonistas da História e alcançavam avanços importantes no processo de libertação nacional e social. Em 1949, a Revolução Socialista triunfava na China, o mais populoso país do mundo. Gigantes como a Índia libertavam-se dum secular jugo colonial (1947). Em muitos outros países, como a Coreia e o Vietname, o imperialismo procurou travar a libertação pela força. Na Coreia, os EUA deram a mão às forças mais reaccionárias, colaboracionistas com a ocupação japonesa (1910-1945). Os portugueses, que viram o Portugal fascista tornar-se membro fundador da NATO pela mão das «democracias ocidentais» conhecem o significado dessas alianças.
Enquanto o Norte foi libertado pelas forças da resistência anti-colonial sob a direcção dos comunistas, liderados por Kim Il Sung, com o apoio da URSS, os EUA instalaram no Sul uma feroz ditadura, impediram a reunificação e criaram uma base de agressão permanente – situação que, com contradições, perdura até aos nossos dias.
Procurando inverter o curso da História, os EUA desencadearam em 1950 uma guerra de extermínio contra o povo coreano. É o General Curtis LeMay que reconhece que «ao longo dum período de quase três anos matámos cerca de 20% da população da Coreia» (New Yorker, 19.6.95). Outras fontes dizem que quase um terço (!) da população da Coreia do Norte morreu na guerra (Brian S. Willson, globalresearch.ca, 2.12.17).
O Comandante em Chefe General MacArthur conduziu uma política de terra queimada, que um subalterno inglês descreveu assim: «destruir todos os meios de comunicação e todas as instalações e fábricas e cidades e aldeias. Esta destruição devia começar junto à fronteira [com a China] e progredir para sul» (citação em Cummings, The Korean War).
Grande parte das cidades e vilas foram obliteradas. Os sobreviventes tiveram de se abrigar em túneis subterrâneos. Foram despejados «oceanos» de napalm sobre a Coreia. Foram utilizadas armas biológicas, como comprovou a Comissão Científica de Inquérito chefiada por um dos mais prestigiados cientistas britânicos do seu tempo, Joseph Needham, numa iniciativa do Conselho Mundial da Paz. Em 1953, «os Chefes de Estado Maior [dos EUA] recomendaram ataques nucleares contra a China» (Cummings), país que teve um papel proeminente no auxílio à resistência coreana.
Conhecer e aprender
com a História
Não é possível compreender a realidade actual da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), e nomeadamente a centralidade dada à defesa face às permanentes intenções hostis e agressivas dos EUA, sem conhecer os sacrifícios que o povo coreano teve de suportar para resistir à agressão de há 70 anos. A História recente é feita de ameaças e provocações permanentes e de violações pelos EUA de sucessivos acordos e iniciativas diplomáticas.
Foram os ministro e vice-ministro da Defesa do presidente «democrata» Clinton que confessaram como, em 1994, «os Estados Unidos estiveram à beira de iniciar uma guerra […] preparámos os planos para atacar as instalações nucleares da Coreia do Norte e para mobilizar centenas de milhar de soldados americanos para a guerra que provavelmente se teria seguido» (Washington Post, 20.10.02). Segundo a France Presse (24.5.00) foi o presidente sul-coreano que travou a louca aventura que destruiria a Coreia.
As lições recentes da Líbia e Iraque são claras: quem aceitar desarmar-se corre o risco de ser destruído pela máquina de guerra bárbara que em 1950-53 semeou a morte e a destruição na Península Coreana.
Hoje como ontem impõe-se a necessidade da solidariedade com a luta do povo coreano pela reunificação pacífica da sua pátria, pelo estabelecimento do diálogo e da negociação, pelo fim das ingerências, pressões e ameaças externas – incluindo das sanções e das manobras militares promovidas pelo imperialismo norte-americano na região –, pela normalização das relações, pela implementação de efectivas garantias de segurança para a RPDC, com vista a uma paz estável e duradoura na Península coreana, livre de forças militares estrangeiras, no respeito da soberania do povo coreano.