"Um dia os réus serão vocês"
Teatralização do julgamento de Álvaro Cunhal no tribunal fascista, que teve lugar de 2 a 9 de Maio de 1950. Havia sido preso pela PIDE, no Luso (com Sofia Ferreira e Militão Ribeiro) e estava sujeito às mais inumanas condições prisionais, nomeadamente em rigoroso isolamento.
Estreou em Almada no dia 25 de Abril, onde permanece até domingo, sendo representado, de seguida, um pouco por todo o país. Este, foi o último projecto de Joaquim Benite, que deixou incompleto, quando a morte o surpreendeu, projecto depois continuado por Rodrigo Francisco e conta com a interpretação do actor Luís Vicente.
É uma obra diferente - cerca de 70% do texto é do próprio Álvaro Cunhal, da sua defesa no tribunal plenário. Defesa que foi um rigoroso libelo acusatório contra o salazarismo:
"O nosso povo pensa que, se alguém deve ser julgado por tais crimes,, então que se sentem os fascistas no banco dos réus, então que se sentem no banco dos réus os actuais governantes da nação e o seu chefe, Salazar."
Outro aspecto é a actualidade da sua intervenção perante o tribunal, passados 63 anos:
"Nós queremos que a economia seja libertada do domínio dos imperialistas estrangeiros. Nós queremos que a nossa indústria, a nossa agricultura, trabalhem para o bem do nosso povo e não para os cofres da city e Wall Street. Nós queremos que os recursos naturais sejam aproveitados para o apetrechamento industrial e técnico, para o desenvolvimento geral do país, e não como hoje sucede (...) Nós queremos que a política seguida em Portugal seja efectivamente portuguesa, seja determinada pelos interesses da maioria da população portuguesa e não por um ínfimo punhado de multimilionários que se tornam cúmplices dos imperialistas estrangeiros nos conselhos de administração das grandes companhias"
Este último trecho, 63 anos depois de ser expresso e 39 anos depois do 25 de Abril, se comparado com a actual realidade portuguesa, dá que pensar. Por isso, acordar está na hora!