Para Ana, de A Foz em Delta
O nascente contrai e distende; o nascente
Ondula. Faz a dança e a dor
Na barriga da mãe que vigia o seu contentamento:
-. Como as marés a luta fascina-me.
Espero a minha: a lua cheia.
O eclipse para que eu nasça, o eclipse
Porque eu nasço. Tenho pressa.
A minha mãe impacienta-se. Aguardamos
Ambas ansiosas e brandas enquanto
Enquanto o meu pai vigia e ama.
O nascente ondula nas margens da luz:
Abre e fecha as mãos, ensaia o salto no sonho.
Medita, de cabeça apontada, o nascimento:
- Eu descerei, eu desço num paraquedas
que me liga à nuvem que me alimenta.
É uma nuvem esponjosa como
Um peixe, quente e impaciente.
Eu prometo-me, prometo-.vos
O nascer Eu.
O pai e a mãe fazem isso:
A alegria do mundo é-me dedicada.
Manuel Gusmão