Para nove negros assassinados não houve o tal "Eu sou..."!
Mas não prossigamos sem um ponto prévio à mesa: foram assassinadas nove pessoas, numa igreja, por razões políticas, levando a cabo, com frieza e precisão, um plano arquitectado durante meses e quase ninguém chama a isto terrorismo. Não há concentrações de lideres nas ruas de Charleston nem capas de jornais onde se leia a parangona "Eu sou Emanuel". Não se levantam paladinos da liberdade, do estilo de vida ocidental, nem (neste caso) do cristianismo. Para a comunicação social dominante, o "terrorismo" tem uma singular exclusividade de autor que não autoriza, por exemplo, a extrema-direita, o fascismo ou o racismo. Para esses casos, recorremos então à patologização da violência: diz-se "era maluco!" e encolhe-se os ombros. Mas afinal, por que razão Djokar Samaev, que, alegadamente matou duas pessoas na maratona de Boston é terrorista, mas Dylan Roof, que matou nove negros, não? A resposta é porque a burguesia dos EUA não se sente aterrorizada quando são os negros a morrer em atentados.
Transcrição (com sublinhados meus) de parte do artigo de António Santos, sobre o recente atentado na cidade americana de Charleston, que pode ser lido mo seu todo, no jornal Avante! da última quinta feira.